Natureza Humana?

A nossa discussão sobre Darwin trouxe um tema que eu considero especialmente interessante, que é o tema da Natureza Humana.

Creio que a primeira pergunta a ser feita quando a gente trata com isso é se estamos dispostos a trabalhar com este conceito e partindo do princípio que estamos, como é possível trabalhar com ele sem recorrer a um tipo de argumento substancial ou arbitrário.

Pois bem, assumindo que queremos falar de natureza humana, agora deveríamos nos questionar porque “natureza” é um conceito da filosofia, ou em que contexto é um contexto da filosofia. Durante muito tempo a discussão sobre a Physis foi o tema da filosofia, toda a filosofia de salão da Europa renascentista girou um tanto em cima disto. O que é natureza? Qual é o lugar do homem nesta natureza? Qual é a natureza humana?

Semana passada, em um seminário sobre Teoria Política, uma das perguntas que surgiram na discussão da constituição do Aristóteles foi se ainda fazia sentido falar naquele projeto político. O que me bate nesta discussão é a relevância de ainda falarmos em uma certa natureza humana que é universal e necessária.

Não sei se isso é possível depois do relativismo cultural, não sei se isso é possível depois de Geertz. Habermas tentou inserir aí um argumento dialógico, com o qual podemos argumentar que natureza humana é esta “colonização subsistêmica do mundo da vida”. Este termo um tanto pomposo, quer dar conta de como determinados padrões linguísticos culturais “povoam” a comunidade. O universal, neste sentido, é a capacidade de linguagem, de sintaxe.

Habermas iria ainda mais longe, e diria que também existe uma vontade-de-entendimento que é universal, que quem quer que proclame enunciados quer que estes enunciados sejam entendidos. Eu certamente tomaria uma liberdade excessiva com Habermas dizendo que “quando nos damos a linguagem, nos damos a possibilidade da ética”.

Mas este meu comentário não está tão distante assim da epistemologia moral Habermasiana, o que eu estou tentando sugerir, na realidade, já está sendo sugerido por diversos pesquisadores em Antropologia na inglaterra: o elemento que nos distingue dos outros primatas superiores é o elemento de Fairness, é que podemos, já em um nível muito básico, dizer “isto não é justo!”. Esta demanda por um certo grau de igualdade formal, ou se vocês preferirem, esta demanda ética, pode indicar um elemento persistente na cultura – o elemento de auto-reconhecimento e demanda. A forma que este elemento adquire muda de local-para-local, de acordo com o homeworld (o mundo da casa), para usar o termo que o professor Steinbock cunhou para falar do âmbito ordinário do nosso dia-a-dia, mas o mundo-da-vida que compreende todos estes pequenos mundos-da-casa tem que lidar com a multiplicidade de demandas e de auto-reconhecimentos que entram em conflito a partir da inserção de padrões linguísticos que tentam se afirmar.

Seria neste sentido, então, que eu tentaria trazer o elemento natural para a discussão. Mas este elemento não é substancial, talvez ele seja metafísico em um sentido fraco, no sentido que ele contém uma relevância fundamental. Mas o que não pode ser esquecido é que o fundamental só adquire sentido quando algo cresce no fundamento, e o que cresce é diversificado. Então mesmo o fundamento “cultura”, adquire um sentido a partir do que se entende enquanto “cultural” – “cultura” seria aqui meu fundo-sem-fundo, o elemento necessário a partir do qual inferimos sentido. O sentido que inferimos, no entanto, é relacionado ao elemento externo (onde tu nasceu, como tu foi criado) e o elemento de liberdade (as tuas escolhas, tuas acomodações, tuas responsabilidades). Talvez esta seja uma compreensão um tanto existencial de cultura, e de natureza. Mas eu estou cada vez mais confortável com ela.

Um comentário

  1. […] pequenas contribuições para o debate acerca da natureza humana. […]

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